No século passado, assistimos perplexos a evolução da modernidade, os principais acontecimentos históricos foram protagonizados por um modelo civilizatório eurocêntrico.
Nos últimos vinte anos, o status americano de superpotência em todas as esferas passou praticamente incontestado. Militar e politicamente continuamos em um mundo unipolar. Mas, em todas as outras dimensões, a distribuição do poder está se distanciando do domínio norte-americano (EUA).
Fareed Zakaria (2008) ao analisar como a globalização, impulsionada pelos Estados Unidos da América, está produzindo potências emergentes que começam a mudar o equilíbrio político mundial; anuncia um mundo pós-americano, que não será definido pelo declínio dos EUA, e sim pela ascensão dos outros países – China, Índia e Brasil. O autor, apresenta evidências de uma passagem de uma postura antiamericana para o pós-americanismo. Este “novo mundo”, segundo Zackaria (ibid.) é o resultado de tendências dos últimos 20 anos que criaram um clima internacional de paz e prosperidade; provavelmente, isso produzirá uma paisagem bastante diferente, uma paisagem definida e dirigida a partir de muitos lugares e por muitos povos. No Brasil, temos assistido um agravamento de problemas sociais, como por exemplo: corrupção, descaso das autoridades públicas com a vida, descaso das autoridades públicas com a natureza, descaso das autoridades públicas com a ética, descaso das autoridades públicas com o aumento da violência, com o aumento da crueldade, da barbárie, da desestruturação familiar, da desestruturação social, com o aumento da presença do narcotráfico, com o aumento da freqüência de pedofilia, prostituição infantil, trabalho escravo, um verdadeiro lixo social que desafia cotidianamente os principais valores indispensáveis à civilização humana, e a configuração de uma sociedade democrática.
Numa perspectiva macro-estrutural, a educação encontra-se vinculada indubitavelmente a todas as dimensões políticas, econômicas e sociais da sociedade. E, num mundo globalizado, a velocidade das transformações na sociedade cria um imperativo entre uma escolha relativista e uma escolha universalista para as funções da escola e de seus personagens.
A escola pública no Brasil, vem sofrendo tensões no seu cotidiano, paradoxalmente à “revolução” da informação, ao mundo globalizado e às pessoas globalizadas (cidadãos globalizados), a educação pública assiste as iniciativas das autoridades, no trato das questões educacionais, cada vez mais atendendo a uma demanda política, e se distanciando de uma demanda educativa.
O currículo da escola pública brasileira, apesar de possuir diferentes disciplinas, que objetivam em última análise, ao desenvolvimento das diferentes percepções humanas, através do aperfeiçoamento das diferentes sensibilidades: musical, motora, artística, cognitiva, afetiva e social. Não consegue, levar a escola pública à assumir um papel decisivo, no cenário social brasileiro.
Muda governo e seus governantes e a indústria da escola pública fracassada se mantém.
O cidadão comum, acaba refém das narrativas discursivas dos políticos e governantes. Primeiro vota descrente e convicto, de que não assistirá a uma melhora no quadro social do país. E, depois ao pagar seus impostos se sente verdadeiramente, vítima pelas altas tributações.
Neste cenário a escola pública no Brasil, está falida como escola, salvo algumas “ilhas de excelência”, funciona como uma das poucas trincheiras de luta cotidiana da rede social, por um mundo civilizado.
Nos discursos extra-oficiais dos professores, a indignação e a intolerância com as autoridades públicas são recorrentes, Naquelas falas ‘underground’, realizadas informalmente, é onde encontramos um discurso profissional pessimista, corrupto, ingênuo e perverso. Em outros momentos, geralmente para cumprir com o calendário oficial, os professores apresentam um discurso tradicional, descrevendo as dificuldades da profissão, bem na conta dos baixos salários; porém, ainda com um tom de prosperidade.
Na outra face da mesma moeda, encontramos as universidades, responsáveis pela formação dos professores, tentando atender as novas demandas sociais; para isto, relativisam as funções da escola, analisam historicamente os currículos, discutem as identidades híbridas, descrevem a importância do respeito à cultura dos povos; porém configuram lócus de desenvolvimento acadêmico, bem distantes da realidade e do cotidiano da escola, colaborando assim para configurar o quadro de fracasso da educação pública brasileira.
As sensibilidades humanas necessitam ser desenvolvidas para atingirem níveis diferenciados de percepções e compreensões. Para isto é necessário um trabalho lento e demorado, que respeite também as novas sensibilidades que surgiram com a globalização.
Quanto maior o volume de informações, maior é o tempo necessário para sua organização. Neste momento da história da sociedade brasileira, é fundamental compreendermos que na pós-modernidade, neste mundo multipolar, será necessário desenvolvermos as múltiplas identidades étnicas, urbanas e rurais; a partir dos valores fundamentais à civilização. E, para isto será necessário muito trabalho educacional! Trabalho lento, demorado, numa sociedade que espera soluções rápidas e num prazo curtíssimo.
Esta posto o desafio!
O bom resultado não dependerá da reflexão e muito menos do relativismo, dependerá de atitudes universais que sejam verdadeiramente comprometidas com a escola pública brasileira. Não com qualquer escola; mais com uma escola, que necessita ser protegida pela sociedade, das narrativas demagógicas e oportunistas; com uma escola pública, que seja respeitada como uma instituição fundamental e indispensável à construção de uma cidadania globalizada, necessária para se conseguir viver e construir, uma sociedade verdadeiramente democrática, num mundo pós-moderno.
Eduardo José da Costa e Faria
- Aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Nível de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE./UFRJ - Turma 2010);
- Mestre em Ciências do Desporto e Educação Física [UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro (BRASIL) em convênio com a ULP - Universidade Livre do Porto (PORTUGAL) - Turma 1993]
- Professor da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro;
- Presidente e Fundador do Instituto CCC - Centro de Conhecimento Científico.
- Email: faria.ed@gmail.com
- Home page: www.institutoccc.blogspot.com